Ela e eu: Relatos de despedida


Nossa, eu confesso que já faz um tempo que escrever sobre esse tema...
Ansiosa, eu? Imaginaaaa.

Brincadeiras à parte, a ansiedade está de mãos dadas com o cotidiano...
Ou melhor, com as pessoas em seus cotidianos...

Deixa eu te contar como era viver com a minha...

Em alguns dias, ela ficava no trabalho...
Desligava o computador, fechava a gaveta, pegava a bolsa e ela me entreolhava com quem diz “Só você vai?!”.

Sem culpa ou ressentimento, eu virava a cara e ia embora.
Não sabia dela e nem como seria sua noite...

Por vezes, ela se escondia por aí... se esgueirava até o carro e andava comigo até a metade do caminho...

Quando olhava do lado, eu percebia que ela me deixara falando sozinha...

Sozinha mesmo ela me deixava quando ia ao parque da cidade...
Aqui que ela acompanhava 5 quilômetros de caminhada e corrida intercaladas...

Preguiçosa que só, minha ansiedade era louca por um sofá...
Eu dizia a ela: “De que adianta, você sentar aí...ligar a tv, escolher um bom filme ou seriado se vai ficar com a cabeça na lua?!”.

Sabe o que ela fazia?! Virava a cara, talvez me dando o troco por deixá-la sozinha, vez em quando.

E como ela foi embora?! Vixe... deu ruim.

Dia desses chegamos em casa e tivemos uma DR... pra falar a verdade, uma briga feia.
Disse a ela que já fazia de tudo...

Já tinha tido fases em que comia e engordava...

Outras em que eu não dormia...e quando dormia, noutro dia ficava aos cacos.

Já tinha mudado de apartamento, cidade, trabalho e até profissão.

Atualmente, eu emagreci tudo, voltei a me exercitar, dou boas risadas, choro quando quero (e preciso!)...

Isso desencadeou nossa separação, eu acho.

No dia da briga, nós chegamos em casa e eu disse:
Poxa, será que não percebeu que nossa relação acabou?!

Não adianta...depois que eu aprendi yoga e meditação, só você ainda não entendeu que não há mais “nós”.

Em resposta a esse discurso, ela sentou na ponta do sofá... primeiro fez cara de ódio...

Depois franziu a testa e sorriu de canto de boca, sem graça e lugar...

E levantando-se, de repente, veio em minha direção apontou o dedo na minha cara e disse com voz embargada: “Se é assim...vou arrumar outro ou outra que me queira!”.

Parou na soleira da porta, suspirou...disse que muitas vezes dormia comigo e até me fazia acordar de madrugada.

Coçou a cabeça e me olhou perguntando se eu estava certa disso...
“Olha só, você tem certeza...vai ficar sozinha...a partir de agora, quem vai ouvir suas coisas de trabalho?! Quem vai te acompanhar nas planilhas de gastos?!”

E quase sem respirar, ela continuou:
“Veja bem, quem vai te motivar a comprar coisas novas?! Quem vai te dizer com quem e onde deve ir?!”

Eu respondia com meu silêncio...

Completamente fora de si, minha ansiedade dizia, apelando:
“Ruim comigo e pior sem mim... quero ver daqui um tempo quem vai te ajudar a planejar tudo detalhadamente?!”

Mesmo assim, eu não esbocei nenhuma reação...

Fosse noutro tempo eu a imploraria pra ficar... comprava alguma coisa pra cozinhar ou fazia uma pipoca e ficávamos ali...ansiosas pelo próximo episódio do seriado.

Como não agi assim, ela saiu do quarto e foi para o banheiro pegar mais algumas coisas...
Isso mesmo...no fim da briga, ela arrumou as malas...

Levou com ela os dvds de filmes de suspense, algumas roupas antigas e a escova de dentes gasta.

Levou uma caixa de remédios pra dor de cabeça, umas tulipas de Chopp, três das minhas canecas favoritas, algumas poucas fotos antigas...

Do computador, tirou os arquivos de projetos frustrados...

Bateu a porta de casa e disse não voltar mais...eu respondi: Vá com Deus...

Eu me viro, resmunguei.

Ela pegou o elevador e sumiu...

Eu voltando pra dentro de casa, senti a um vazio...

Olhei pela sacada...dia bonito, nada mais me angustiava.

Ainda assim, eu corro até os armários...

Do quarto, da cozinha e do banheiro... Olho todas as gavetas.

Ela levou muita coisa...e eu nem vi.

Ah, deixa pra lá...eu fiquei comigo...confio na minha voz interior.

De qualquer forma, eu sei que será uma adaptação e tanto...
Por toda a vida, eu convivi com ela...

Ela ditando as regras de tudo...
Ah, cansei, respiro aliviada!

Vou até a sacada e a acompanho subindo a rua...
Fôlego curto, arrastando a mala...
Levou muita coisa, essa danada!


Levou de mim, a obrigação de dar conta de tudo...


1 comentários:

  1. Ansiedade... quem não tem? Mas se livrar dela todos querem. Adorei a postagem. E há tempos que venho adiando a iniciativa de fazer meditação e me matricular na Yoga(que já pratiquei e gostei muuto), e olhe que tem uma pertinho de casa. Vamos ver se me animo.😘
    www.danuzaeoslivros.blogspot.com

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