Depois que ele foi embora, tudo deixou de ser “pra ontem”

Sempre fui uma pessoa que queria as coisas “pra ontem”.
E era assim em todas as áreas da minha vida...

Se entrava numa sala de aula, logo já queria “dominar” a turma...
Se aprendia uma técnica nova, um novo modelo para documentos de perícia, um novo amigo, um encontro amoroso com alguém...
Se começava a estudar para um concurso, em poucos dias já queria decorar todo conteúdo do certame...

Tudo era pra ser perfeito e rápido.

Andava na companhia do Imediatismo... Que, rei da minha vida real e digital, dava as cartas até que eu chegasse à exaustão.

Chegava em casa a noite, cansada, eu me rendia a devorar comida e as tarefas do dia de amanhã.

E foi numa noite de sexta-feira de 2014 (não me lembro exatamente qual!) que nos encontramos... Eu sentada no sofá, aos goles de cerveja, ele passou para o quarto.
Achei estranho, frio correu pela espinha... Gelei, afinal, morava sozinha.

Figura rápida de rosto e corpo esguio, se apresentou tão rapidamente quanto chegou ou foi embora.
Imediato, meu nome... O seu, eu já sei, você trabalha pra mim...foi o que ele me disse.

E desapareceu...me deixando na dúvida se era uma aparição fantasmagórica ou era a bendita cevada.

Semanas depois, mesmo cenário, ele reaparece... Trouxe a Ansiedade e o Nervosismo...

Essas foram as primeiras vezes em que me dei conta de que eles existiam na minha vida.

Mas os dois primeiros, Imediato e Nervoso... Esses se despediram primeiro, deixando a bendita amiga ansiosa ainda para trás.
A ela, já contei, eu dei adeus não tem muito tempo...
Mas como me livrei dos dois, você se pergunta?

Ah, foi difícil, mas consegui... O Nervoso foi primeiro...

Eu o deixei num hospital, após uma crise de dor no peito...
Ele me olhou fazendo cara de choro e ameaçou... Eu lhe dei o famoso chá de pouco caso e o abandonei lá.

Imediato ainda me fez companhia por mais um tempo...
Minha necessidade de querer tudo rápido... Vida, trabalho, conquistas materiais...
A rapidez exterior que brigava tanto com meu interior...

Enfim, passou... Imediato foi embora tão rápido que eu nem sei explicar em que dia isso aconteceu.

Só sei que numa sexta-feira mais recente... Eu terminei meu tempo de bicicleta ergométrica, ao som de música animada e orações de gratidão...

Quando dei por mim, eu notei que já não tinha a necessidade de tudo pra ontem.

Agradeci...


Deve ser porque, aos poucos, eu fui entendendo que a vida carece de calma e construção.

Sou grata por ter reconhecido que a beleza do caminho da vida está na troca de cada passo.



Ele, eu e os relatos do cárcere

Aprendendo a ser criança? Hum, entendo...
Um medo doido de bicho papão, de escuro...
Um medo de ficar sozinho, pra dormir, em casa ou na vida?

Crescemos, você deve responder, não sentimos mais essas coisas. E eu respondo: Será mesmo?!
Se é uma lição valiosa que aprendemos é conviver com o medo.
Eu mesmo já me despedi de vários...ah, pronto falei!

Caso você ainda carregue os seus como eu, esse escrito veio em boa hora.
Pesos e culpas não valem... aqui falamos de medos...
Desses que a gente pensa não sentir mas que travam a vida, não deixam nada fluir.

Parece que nada é tão ameaçador do que não sermos nós mesmos...cravamos o pé no que achamos que somos por puro medo.
Medo diverso, difuso, misturado no tudo e no nada...

Falei nada com nada e acabei acertando o seu medo, certo?

Ah, me perdoe...não tento ser invasiva...aqui apenas percamos os medos de dividir, compartilhando estórias das nossas histórias.

E como o espaço cabe todos os medos, eu vou arriscar falar de alguns dos meus...
Eram tantos que não caberiam na crônica..., mas, no fim, somando todos juntos numa só conta era o medo de viver.

Deixa eu contar como era a prisão e depois, o relato da fuga, melhor assim?!
Não sei falar quando começou, só seu que foi assim durante anos... presa numa visão de que o medo me protegia.

Criando cada vez mais filhotes de si, ele me deixava algemada às suas mãos, pernas e pés...me impedindo de caminhar.
Noutro tempo, ele fechava meus olhos, distorcendo minha visão dos fatos, acontecimentos e pessoas.

Esperto que só, o medo tapava meus ouvidos na intenção de que ouvisse apenas as vozes dele e de seus sucessores.
Num dia, a prisão particular ficou sem o carcereiro...
O medo de “ser eu” deixou seu posto por falta de pagamento...

Saiu sem sequer trancar as portas... deixou a luz do dia entrar e eu aproveitando a oportunidade fugi.
Nesse dia, nem assisti ao noticiário para não sentir medo de voltar a ser quem eu não era.

Os dias foram passando, o cotidiano se fazia mais bonito e os medos foram desistindo de mim.
Talvez por terem outros prisioneiros ou reféns, não sei ao certo.
Só sei que a cada dia me faço mais forte...melhor e me sentindo bem em minha própria pele.

Dia desses tive um plano, quer saber?!

Estando bem, eu reunirei mais pessoas como eu... numa boa rebelião de bem.
E qual a missão, você pergunta? Vamos tirar das garras do medo... todos aqueles que querem viver.

E aí, posso contar com você ou não?!



Relatos das pedras do caminho


Você já teve a tal “pedra nos rins”?
Amigo leitor se teve guarda na lembrança... Mas é bom esquecer.

Se não, imagine uma dor lancinante...
Enfim, é um pleonasmo dos bons porque é a dor mais dolorida que uma pessoa pode ter.

Até as mulheres, mães de parto, não experimentaram tamanha sensação.
Traumas a parte, permita-me contar que há duas semanas tive um episódio desses.

Foram dezesseis dias em prol de uma bendita pedrinha que me percorreu trazendo todo desconforto e reflexão possível.
Sem hora pra doer, aquilo me fez deixar de ter reservas até para as lágrimas.
Foram dias envoltos de remédios, chás e longas estadias no banheiro... Na esperança de expelir a bendita.

Como a danada não saía, eu fui obrigada a refazer uma via sacra... De consultas, duas internações e um procedimento cirúrgico que deu errado.
Nisso, não reclamei e nem ousei dizer nada...
Contei, comuniquei aos amigos e parentes mais próximos, porém nada em tom vitimizante.
Não, não estou fazendo workshop para “Madre Tereza”... Que Deus tenha a Santa de Calcutá!

Contudo, eu ando entendendo, depois de anos estudando terapias holísticas (aplicadas ou não!), que meu corpo quis se comunicar comigo...
E conseguiu me dando muitos recados preciosos, veja alguns:

Valorize a ausência de dores, mesmo que elas, normalmente vilãs, cumpram seu papel de nos avisar que algo não corre bem.

Não desacate o acompanhante, ao contrário, se você tem alguém que lhe acolhe em momentos como esse... Passe a dor ou raiva que for, acolha-o também.

Respire, pense bem e medite... A dor física tem no componente emocional, um alimento e aliado. Quando mais você pensa e reclama, mais dolorido fica.
As outras lindas falas do meu corpo foram relacionadas à brevidade e qualidade de vida...

Além dessas conexões interiores, a experiência hospitalar e medicamentosa me permitiu encontrar figuras maravilhosas.

Uma recepcionista delicada que acolhia a todos que passava na ala de internação do pronto socorro.
Enfermeiras e técnicas de enfermagem dedicadas que me lembraram dos queridos alunos os quais já formei.
Um médico caridoso que retirou o bendito cateter infecionado antes do tempo, entendendo que entre o risco de reprovação do convênio e o conforto do paciente, ele ficaria com a segunda opção.

Foram olhos, cuidados e almas que me ninaram como colo de mãe.
Situação que me deixou emocionada, remexida e decidida a abraçar mais pessoas e mais de mim.

A cada entrada e saída do hospital, remédio ou chá, eu pensava sobre ser mais eu e o que poderia melhorar em mim.
Não queria que essa vivência apenas me tirasse à dor física...

Passar por isso me custou tanto que deveria me deixar aprendizados... E como você pode ler, deixou!

Dessa forma, na última semana resolvi rever meus projetos de mídias digitais e minhas maneiras de sair do casulo para ganhar novos jardins.

Se sofrer dos rins, como dizem na medicina holística, é padecer de medo... Prometo me despedir dele.
Tive muito dele em mim... Me tranquei em conchas e casulos por muito tempo.

Eu me recebo como estou, acolho as mulheres que já fui e vou caminhar mais...

Estou disposta a crescer, melhorar e viver uma vida épica, como diz um mentor digital.
Finalmente entendi que tirei a pedra de dentro de mim... E a outra, que bloqueava o caminho.

Vou seguir adiante... Recomendo o mesmo.
Fé em Deus!





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Gratidão por compartilharem comigo... Beijos.