Quem
me olha nos olhos
Me sinto cansada hoje,
você não?!
Ando cansada do excesso de
teoria, de auto ajuda e de comunicação vazia.
Ah, perdoe o desabafo, mas
é verdade...
Num tempo em que a rapidez
impera em tudo... Até pra desabafar é preciso cuidado.
Tempos atrás fiz uma
“experiência” dessas com uma colega de trabalho.
Digo, entre aspas porque
quis provar o quão “preocupadas” as pessoas são.
Tem gente por aí (e
sabemos quem eles são!) que gosta de se mostrar solidário, preocupado,
compassivo...
Tem gente que se veste de
afeto, carinho e cuidado, sem saber o que é isso...
Pessoas assim são um
perigo... Pra nós e pra elas.
Continuando a narrativa da
experiência, a tal figura que trabalha comigo perguntou como foi à consulta
médica que tive na véspera.
Respirei fundo, quis silenciar...
Afinal, a consulta e minha e o médico é meu, oras!
Apelei pro bom humor como
faço sempre (uns 80% das vezes, preciso melhorar, eu sei!) e disse:
Correu tudo bem, na mais
perfeita ordem.
A figura foi olhando pra
mim e tendo expressões diversas enquanto eu suspirava e respondia.
Fez cara de pena, quando
eu inspirei... Cara de espanto, com meu silêncio... E uma cara emburrada, com
minha resposta.
Afinal, o que ela
esperava? Que eu contasse minhas agruras...
Que contasse sobre diagnósticos,
prognósticos, medicamentos, exames... E como sou abençoada por isso ou aquilo.
Gente, eu não respondi por
que não há nada a ser dito.
Vou bem de saúde, a
consulta era de rotina... E minha energia vibra para o bem...
Não me cabe o papel de
vítima nem na saúde, nem na doença... Nem que a morte me separe.
O que guardei disso? E
porque estou escrevendo sobre isso?
Porque se fosse só a
consulta médica, eu poderia considerar que a tal pessoa estivesse tendo cuidado para comigo... no entanto, é para tudo...
Perguntam sobre o fim de
semana, a festa da tia avó, se o tataraneto da minha tia está crescido...
Se a unha encravada do meu
cunhado está melhor, se meu ex-gerente de banco me liga...
Se a casa é alugada ou
financiada, que ano é o carro... Se compro nesse ou noutro supermercado mais
caro.
Se gosto de bons
restaurantes, vinhos caros... Se sou adepta da comida de boteco ou food truck.
Se faço academia, onde,
como, com quem e quanto pago.
Ave Santa, tanta pergunta...
Da minha parte, não é julgamento...
Tão pouco tenho intenção de destilar o veneno, como dizem.
O “x” da questão é você
saber qual é o ponto final ou a reticências da relação.
Com tantas redes sociais,
amigos virtuais, inúmeras formas de se encontrar alguém (e ser encontrado!)...
o que se perde é o tempo pra si, sem contar a privacidade.
Tudo bem, mas isso é uma
escolha você pode responder. E eu entendo...
Fazer isso no mundo
virtual é mais fácil... Baixamos as extensões, configuramos os plug-ins, pop
ups e se der alguma coisa errada, bloqueamos ou excluímos.
E o que fazer na vida
real? Mistério, amigos... Mistério.
Talvez essa seja a mágica
da vida... Saber lidar com a diversidade de pessoas a nossa volta.
Sem grosseria ou
invasão... Sem maldade ou omissão... Sem apatia ou excesso.
Com humanidade, respeito...
Dando de si o melhor.
Não porque é politicamente
correto, educado ou cult...
Dando seu melhor porque é
a verdade da sua alma... Por acreditar mesmo.
Eu sigo assim, me dando o
direito de escolher as partilhas.
Aqui, são minhas palavras,
o que dita minha alma...
Na vida real, meu
cotidiano, meu riso, minhas limitações são divididas com quem me recebe.
São aceitas, acolhidas e
por vezes, até debatidas... Mas por quem me olha nos olhos. Sem desviar a
atenção.
Por isso, essa crônica de
hoje... Não é para alfinetar, magoar e muito menos “causar”.
Meu escrito nessa linda
sexta que antecede um fabuloso fim de semana... É para que você se perceba.
Perceba como você tem se
tratado...
Tem feito muitas coisas
por obrigação? Tem respondido a muitas perguntas invasivas por medo de parecer
deselegante ou mal educado?
Não, definitivamente, não
seja grosseiro... Mas comedido, respeitoso consigo.
Não com quem pede
notícia... Corriqueira, para passar adiante ou fazer um comentário maldoso a
qualquer momento.
Dê notícias suas, risadas,
refeições, gestos de carinho... Divida xícaras de café, abraços, edredom em dia
de filme no sofá.
Isso pode ser com família
ou não... Contando que sejam pessoas com as quais temos afinidades genuínas... Sejam
elas enlaçadas por sangue ou não.
Dê o que é seu de
melhor... Para que também o faz! A isso chamamos de reciprocidade...
A vida é muito curta para
tomar cafés ruins, li numa mensagem rápida de rede social... E agora, vou
arriscar a paráfrase:
A vida é muito curta para
dar tantas notícias com quem não temos verdadeira troca.
Diga não às perguntas
banais, as invasões de espaço (físico ou emocional)...
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